Quando ouvi falar do filme, admito que tive preconceito e ao mesmo tempo certa curiosidade...vi o trailer e pensei que não se tratava apenas de um filme com cenas de sexo explícito como todos me disseram, então resolvi assistir e tirar minhas próprias conclusões.
Joe (sim é uma mulher com nome de homem, sugestivo?depois comento) é encontrada desmaiada, machucada e jogada num beco, por um senhor gentil que lhe oferece ajuda, cuidados e abrigo. Ela aceita. Quando alimentada e bem instalada na casa dele, o senhor pede uma explicação e Joe diz que precisa contar a história inteira pra que ele entenda como ela chegou naquele lugar, então ele ouve pacientemente tudo o que ela tem a dizer. Ela conta a sua vida toda, o que consiste em sua vida sexual principalmente e dá a entender que sofre de ninfomania ( é um transtorno de desejo sexual hiperativo, em mulheres). O que ela usa como justificativa para se julgar uma pessoa ruim. Mas o bom velhinho (não é o papai noel), não consegue acreditar que ela seja má como diz e durante a história lhe faz uns questionamentos como se fosse um terapeuta.
Sempre ela usa algum componente do quarto ou de alguma metáfora do ancião para contar um pedaço de sua história.
O filme é dividido em capítulos e nessa primeira parte que deve durar umas duas horas vai até o capítulo 5.
Tenho que dizer que o filme me surpreendeu, superou minhas expectativas se revelando um filme cabeça ao invés de pornografia pura. Sim, há algumas cenas de sexo, faz parte da história, mas não foi isso que me chamou atenção.
Recomendo o filme para quem gosta de filme cabeça, tem sensibilidade e gostaria de aprender mais sobre o comportamento humano
.
Questionamentos ( CONTÉM SPOILER):
Esse senhor que acolheu Joe, faz umas reflexões muito inteligentes à cerca do comportamento humano, o que me faz pensar que das duas uma : ou ele é muito observador ou é psicólogo. Ele acaba ajudando a entender mais ou menos as atitudes da garota. Outra coisa interessante, ele nunca julga ela e tenta fazê-la acreditar que não é tão má assim
Teria sido "Joe" o nome masculino escolhido para a personagem para criticar o fato de que se ela fosse um homem, seu comportamento e desejo sexual não seriam inadequados ou classificados como transtorno? Por que ainda hoje o mundo é machista?
Achei linda a forma como o pai dela fala das árvores, que todas eram lindas no verão, na primavera, com copas verdes e floridas mas no inverno se tornavam todas iguais, só os troncos e esses troncos eram as verdadeiras árvores, sua almas. O que me fez pensar se na verdade ele não falava de pessoas, as pessoas vestem máscaras e fantasias para o mundo o tempo todo, mas em momento mais vulneráveis, de sofrimento, como no inverno para árvores, elas ficam "nuas" e é possível enxergar a alma da pessoas, como elas realmente são.
Não sei se fui a única pessoa que pensou que poderia haver uma relação incestuosa entre ela e o pai?talvez parte disso tenha ajudado o transtorno a se estabelecer?Ela queria um homem que ela nunca poderia ter de verdade, inalcançável?
Não sei se não prestei atenção, mas qual era a especialidade médica do pai dela mesmo?Penso que ele soube desde cedo o problema da filha, pois ele viu ela lendo sobre o sistema reprodutor feminino em seus livros de anatomia.
Nunca disseram o que era a doença do pai de Joe.
O fato dela ter sentido excitação quando o pai morreu, não poderia ser uma reação descontrolada do corpo em resposta à uma emoção muito forte ou estresse da perda de um ente querido?
Aquela amiga dela provavelmente colaborou e muito para que ela se tornasse o que é. Fato.
Ao mesmo tempo que o sexo é um ato de proximidade, intimidade extrema, Joe nunca conseguiu amar ninguém de verdade... talvez Jerôme, de alguma forma?
Saberemos na continuação que estreia em: 21/03/2014?
fonte da data:
Adorei o que você disse sobre os troncos das árvores serem uma metáfora com a alma das pessoas, que no fundo são todas iguais... questões existenciais todos nós temos e cada um lida da sua forma com elas.
ResponderExcluirPra mim, fica realmente a dúvida se ela é ninfomaníaca, porque não me pareceu em nenhum momento que fosse apenas uma busca por prazer da parte dela. Havia uma fuga ali... Quando ela procura relações sexuais quando o pai está morrendo isso fica mais claro. E quando ela estava consigo mesma, sofria muito, naquelas caminhadas. Ali nas florestas ela buscava o pai, a pessoa que ela amou de verdade e lhe oferecia algum conforto. Não acho que tenha havido um incesto, mas sim um acolhimento do pai com ela, e quando ele morre, acho que a reação dela pode ter sido um alívio por ele ter se libertado do sofrimento.
Fiquei também na dúvida sobre ela ter amado Jerome... acho que sim, pelo que ela descreveu do caos e falta de controle. Mas aquele vazio que ela fala no final me deixou intrigada! Não sei se é sobre o vazio existencial que ela fala, sobre a fragilidade humana... não sei se ela esperava que o Jerome preenchesse o vazio dela e se decepcionou, ou se ela não conseguiu lidar com aquele descontrole...
Parabéns, amei a sua análise!
Priscila, eu também notei o vazio que ela sentia, pensei que naquelas caminhadas era uma forma de encontrar o pai no passado já que ele não estava mais presente.... é triste, mas é o jeito dela de suportar a perda. Acho que ela amou Jerome inicialmente, mas quando decidiu se entregar era tarde demais... então ela excluiu ele da vida dela e do nada ele aparece de novo... e ela fica confusa. Esse "sentir nada" que ela fala, pra mim, é o resultado de vários traumas que ela teve antes, ela se fechou de um jeito que não se permite mais ser feliz e ter alguém como companheiro.
ExcluirAcho também que ela usa o sexo como válvula de escape para estresse, tristeza essas coisas.
Amei teu comentário!
Oi, Ana
ResponderExcluirGostei muito da sua resenha. Achei bastante sensível sua análise sobre as árvores e acho que de forma geral, seu blog está de parabéns por toda a proposta reflexiva e polifonia de autores que ele traz. Também não acredito que ela seja ninfomaníaca porque vejo uma dualidade na busca de prazer, pois nesse ela não parece se implicar de verdade. Ela parece procurar o prazer não como uma experimentação, mas como uma fuga, uma tentativa de organizar o caos ou anestesiar a dor. Acho que o filme fecha perfeitamente no relacionamento sexual dela com o Jerome porque fiquei com a impressão que ali na perda da virgindade dela, ocorreu uma frustração, um trauma muito grande e onde talvez a angústia dela tenha se acentuado. Antes, ela era somente uma menina curiosa por sexo, mas ali com ele acho que algo se perdeu além da virgindade e naquele choro, acho que a alma dela se revelou. O "não-sentir" é a perda total do "eu". Acho que na tentativa dela não se frustrar, não sofrer, ela tentou impor um distanciamento entre ela e os homens, limitando toda a interação em prazer sexual, mas ela não percebe que abre mão de si mesma nesse processo. De forma geral, o filme me fez pensar muito. A primeira coisa que me veio à mente foi o vazio que todo ser humano carrega dentro de si e é imperativo. Acho que o diretor de uma forma bem sagaz relacionou isso com os orifícios do corpo. O vazio é o que nos move durante a vida para tentarmos preenchê-lo, sem nunca conseguir fazê-lo totalmente, pois caso contrário seríamos seres "completos", "apáticos" e "vegetativos". Mas a busca incessante de preencher o vazio, a angústica que carregamos pode nos levar muito longe se não houver uma medida. Longe até de nós mesmos inclusive. Acho que o diretor merece um crédito também por falar de sexo de uma maneira não hipócrita. Sempre digo que a maioria das pessoas, principalmente aqui no Brasil que posa de país desinibido e liberal sabe sobre genitais, mas não muito sobre sexo ou erotismo. O excitante não é um corpo nu ou o ato em si, mas o significado que atribuímos a isso. São as neuroses que movem o sexo, o mapeiam e traz à tona nossa alma.
Também pensei em um momento que no hospital ocorreria algum contato incestuoso entre ela e o pai, mas depois pensando bem, percebi que não era possível. O sexo era o código dela para declarar dor e ódio e o pai era o único que ela amava.
Parabéns novamente pela excelente análise e pelo blog! ;)
Um beijo
Rafa
Genial esse teu comentário Rafa, pelo visto acho que somo duas, talvez três (contando com a Priscila) que ficaram refletindo o tempo todo no filme. concordo com vc sobre a hipocrisia relacionada ao sexo. As pessoas fingem que não existe, mas faz parte da vida, de um relacionamento sério e algumas pessoas ainda pensam que é uma coisa suja, pecado. Isso me incomoda, sexo é muito mais do que um ato de reprodução e erotismo e acho que foi isso que o filme quis mostrar.
Excluir